Em 1967 o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre afirmou que “uma cozinha em crise significa uma civilização inteira em perigo: o perigo de descaracterizar-se”, antecipando a valorização da culinária como matéria-prima fundamental à compreensão da sociedade. Os antropólogos concordam que os principais elementos de identificação de um povo são o idioma e a comida.
Lucca, cidade italiana cercada por muralhas na região da Toscana, proibiu a abertura de novos restaurantes de culinárias étnicas dentro de seu centro histórico. Os moradores orgulham-se de descender dos etruscos, que fundaram Lucca antes de os romanos a tomarem em 180 a.C. Num ambiente tão conservador, até a culinária siciliana é considerada étnica.
Em Lucca existem quatro restaurantes de kebab, pois a população de imigrantes é cada vez maior e muitos italianos, principalmente os jovens, apreciam comidas de outros países. Além disso, o preço é bem mais acessível, além de os imigrantes turcos e árabes estarem dispostos a trabalhar maior número de horas, fazendo concorrência desleal com os restaurantes tradicionais. Assim, os já existentes poderão ficar, mas novos restaurantes étnicos e fast foods estão proibidos de se estabelecer dentro dos muros da cidade – e não só em Lucca, mas também em Sienna e outras cidades da Toscana e de outras regiões (em Veneza, a Coca-Cola foi impedida de instalar máquinas de refrigerante pela cidade).
Os turistas que visitam Lucca se dividem: alguns afirmam querer viver os sabores e a cultura da Itália e concordar com as autoridades locais quanto à preservação de sua cultura e identidade histórica. Outros, no entanto, alegam que alimentos de fast-food hoje não estão mais ligados a nenhuma região em particular: pertencem ao mundo.
Enquanto isso, a Coreia do Norte inaugurou há meses na capital, Pyongyang, a primeira pizzaria do país: os cozinheiros foram enviados pelo presidente Kim Jong-il para serem treinados na Itália, e os ingredientes importados da Itália. Até então, os norte-coreanos só tinham visto pizza e espaguete na TV. Mesmo agora, só uma elite privilegiada terá acesso a este luxo, já que a maior parte da população vive em extrema pobreza.
E em Cantão, sul da China, o prato da moda nos restaurantes é "frango mordido por serpente venenosa" (ou "sheyaoji", em mandarim): o cozinheiro obriga uma serpente a morder a cabeça do frango, que morre em segundos na frente do cliente. O veneno perde a toxicidade depois de cozido e, dizem eles, é bom para combater resfriados e reumatismos.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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3 comentários:
Coitadinho do frango...aliás, coitado do cliente em assistir isso e depois ter de comer!!!
É verdade... parece que os defensores dos animais já andaram reclamando. Agora só falta aparecer alguém pra defender os direitos do cliente! bjs
Sorte que não nasci na Coréia. Como iria ficar sem pizza?! Acho que por isso eu nasci em SP!
Gilberto Freyre é um gênio. Adoro ele!
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