quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Santiago

Alguns estranharam quando eu disse que, na volta, ficaria uns dias em Santiago. Não entendi por quê. A ideia que eu fazia da capital chilena era a de uma das cidades mais desenvolvidas e prósperas da América Latina. Infelizmente, assim que desembarquei percebi, já no banheiro do aeroporto, que não é bem assim... o pior veio em seguida, quando um funcionário com ares de "otoridade" me fez abrir a mala e cismou com um vidro (que pesava, junto com a embalagem, 160 gramas!) de mel de manuka, extraído de colmeias orgânicas da Nova Zelândia. Com alguma noção de segurança alimentar, sei que certos alimentos podem pôr em risco a atividade agrícola de um país - uma coisa é um vidro contendo um favo de mel, adquirido diretamente de um pequeno apiário, sem nenhuma fiscalização. Outra bem diferente é um pequeno frasco de mel da Nova Zelândia (país que, pelo rigor e excelência na produção, deveria servir de exemplo para os demais) industrializado,  lacrado e protegido por embalagem especial, adquirido numa loja de souvenirs.  


O funcionário me conduziu a uma sala reservada cheia de gente onde eu, sem entender o que diziam, cansada e confusa depois de um voo com imensa diferença de fuso horário (saí da Nova Zelândia no dia 17 à noite, viajei cerca de 11 horas e cheguei a Santiago no mesmo dia à tarde), numa situação covarde e intimidadora, fui forçada a assinar vários documentos num idioma que desconheço:


em um deles se lê “ABSUÉLVASE”, o que me faz crer que houve ali um julgamento sumário no qual me foi negado qualquer direito de defesa, e no qual a sentença foi proferida por alguém sem nenhum discernimento ou bom senso pois, apesar de absolvida, fui subtraída de minhas posses, já que o mel não me foi devolvido. 

Só quem tem uma paixão é capaz de entender o que significa percorrer toda a Nova Zelândia de sul a norte e depois atravessar o Pacífico para deixar na mão de funcionários ignorantes uma iguaria rara, oriunda de um lugar exótico e distante ao qual provavelmente jamais retornarei. Muito além do valor monetário, tal produto tinha para mim um valor inestimável.

Depois disso, você pode estar pensando que Santiago é um exemplo nas áreas de saúde, higiene e fiscalização, mas o que vimos foi exatamente o oposto:



Na estação de metrô por onde passávamos diariamente havia uma loja com empanadas expostas numa vitrine em condições de armazenamento inaceitáveis, que ficaram ali durante pelo menos quatro dias. Diariamente nos demos o trabalho de fotografar as empanadas e fazer o acompanhamento delas (por meio de particularidades que permitiam a identificação) até seu consumo por algum infeliz transeunte, ou sua retirada da vitrine.





Chegamos num domingo e o guia sugeria um passeio pelo centro histórico.






Catedral Metropolitana


Palácio La Moneda







Muitos restaurantes fecham no domingo à noite. Encontramos um aberto perto do hotel, no bairro da Providência. A bebida na taça é "pisco sour", drinque chileno/peruano à base de aguardente pisco e de limão.


Filé com purê de batatas e molho de cogumelos


No dia seguinte, café da manhã no hotel


Decidimos conhecer o bairro nobre de Las Condes, já que o centro havia causado uma impressão ruim.

No local há lojas de grife e restaurantes luxuosos, mas não há transporte público - só se chega de táxi ou carro. As ruas também não são convidativas para caminhadas. Por falar em transporte, o metrô de Santiago tem várias linhas e é uma das coisas que funcionam bem na cidade - embora viva lotado.





Sem muitas opções em Las Condes, viemos parar no shopping Parque Arauco, o “maior shopping do Chile”. Alexandre tentou comprar um filme fotográfico (sim, ele usa câmera analógica) e recebeu um que tinha vencido em setembro de 2010. Ao reclamar, ele recebeu outro – vencido em julho de 2010! 

Bateu a maior sede - fazia calor e a cidade é muito seca - e descobrimos, por acaso, a melhor coisa de Santiago: a chirimoya, deliciosa e nutritiva fruta andina que lembra um pouco fruta-de-conde. 


arquitetura de Santiago: inspiração em Dubai?


Demos uma passada no Cerro San Cristóbal (Parque Metropolitano).


Motivo de orgulho: os 33 mineiros soterrados

O local pareceu bastante abandonado. O teleférico estava sem funcionar há meses (embora devesse ter voltado a funcionar em julho último). A única coisa que deu pra fotografar foi o jardim japonês.


Uma curiosidade: matilhas de cães de grande porte (tipo pastor alemão) vagam pelas ruas, mesmo nos bairros mais turísticos, num cenário apocalíptico.




Almoço no pequeno restaurante do hotel


Depois que descobrimos a chirimoya, ela passou a fazer parte de todas as nossa refeições


Salada Caesar


Filé de frango com batatas


É implicância minha...


... ou as bancas de jornais de Santiago são mesmo as mais feias do mundo?


Lembra daquela empanada furadinha? Entra dia, sai dia, e ela continua lá na vitrine...


chirimoya à venda


vira-latas nas calçadas da Providência


sorvetes do Emporio La Rosa


Os sorvetes são ótimos, mas o pessoal tem o estranho hábito de jogar as pazinhas roxas de plástico no chão - eventualmente, também o copinho e o guardanapo.


Este foi o primeiro bairro com que simpatizei por aqui - se chama Bellas Artes


O sinal está verde, mas o pedestre não atravessa, pois os carros continuam a passar em velocidade. Não é um caso isolado, mas um costume local: eu me preparei pra bater a foto porque sabia que eles iam avançar. Estranho é que ninguém reclama, o que também é um sinal de subdesenvolvimento.


cachorros revirando o lixo à noite


margarita!


ravióli de camarão com cogumelos


tartare de salmão


não sei pra que serve esse líquido à base de limão que eles colocam na mesa às refeições...


sorvete


este "rio" fica na entrada do Parque Metropolitano. Saudade daqueles da Nova Zelândia...


Infelizmente, a lembrança que guardarei de Santiago é a de uma cidade onde educação é artigo raro - pelo lixo jogado no chão, pelos avanços de sinais, pelo modo como se fura fila...

 
iogurte de chirimoya


alcachofra espanhola, baratinha


Passamos a simpatizar um pouco mais com a cidade depois que mudamos de hotel. Não que o primeiro fosse ruim, mas o recém-inaugurado Le Rêve era superaconchegante, com um serviço fantástico e jardins muito bem cuidados.

fachada do hotel


saímos na rua e... mais cachorros!


visita ao museu de arte pré-colombiana

jardim do hotel







rua do hotel


restaurantes próximos ao hotel

5 comentários:

Anônimo disse...

Nádia,
Lamentável o procedimento no aeroporto !
Fiquei com uma visão diferente da que tinha de lá !
Beijocas.
KB

Nádia Lamas disse...

Pois é, amiga, eu tb fiquei com uma visão muito diferente... se soubesse como seria, preferia ter pulado essa parte. Minha viagem teria sido perfeita. bjs!

Anônimo disse...

O que uma mulher cansada tem que suportar. Já pensou se a terra dá uma tremedinha?! Então ... Eu o-d-e-i-o pastor alemão. Lobos! E eles idem ... kakkakakaka. Um destino por vez está bom né! DMOT

Anônimo disse...

O monstro que vc enfrentou em Santiago foi muito bem descrito por vc em relação aos sentimentos suportados, lhe foi arrancado muito mais que um pote de mel. Vc enfrentou a burocracia, esse monstro de muitos tentáculos e facetas. Imagina só, sua amiga, que ganha o pão, nos seus emaranhados. O mundo não é bom darling! Nós é que somos bobas! DMOT

Nádia Lamas disse...

Denise, como sempre adorei seus comentários... só você pra me fazer rir dessa situação. Eu adoro animais, tenho a maior pena de fazer maldade, mas não dá pra deixar a bicharada solta pelo meio da rua, né? se comportam bem até o dia em que resolvem atacar,afinal, são irracionais... conheço várias histórias trágicas acontecidas com o pastor alemão da família, imagina os da rua! sem falar nas doenças... não dá. "o mundo não é bom" é ótimo, vou lembrar sempre disso! beijos