quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Chicago

Chicago me impressionou já no aeroporto. Em seguida, dentro da van a caminho do hotel, no centro, veio uma certa decepção. Ouvi dizer que o trânsito foi um dos principais motivos para que as olimpíadas de 2016 não se realizassem na cidade. De fato, os engarrafamentos são frequentes e o tráfego é caótico. Os motoristas nem sempre respeitam o sinal, e adoram uma buzina.


Chegando ao centro, nova boa impressão: Chicago é a cidade mais florida dos EUA.




E olha que estamos em pleno outono!


Terceira maior cidade dos EUA, atrás de Nova York e de Los Angeles...



... as comparações com Nova York são inevitáveis. Embora não tão cult, Chicago ganha nos quesitos beleza e limpeza.







Nossa visita acontece num momento especial: no próximo domingo será a Maratona de Chicago, e a cidade está cheia de gente de fora, inclusive muitos brasileiros. Mal dá pra passar em frente à loja da Nike, onde uma multidão se aglomera diante desta parede...



... com os nomes de todos os corredores.



Estamos às vésperas do Halloween...











A cidade foi destruída por um incêndio de proporções catastróficas em 1871. Graças a doações recebidas de várias partes do mundo, em pouco tempo Chicago reergueu-se. A reconstrução atraiu arquitetos de renome, o que fez com que a engenharia e a arquitetura da cidade se tornassem referência mundial.




Dentro da Nike, uma parede onde as pessoas escrevem mensagens de apoio...



... pros parentes e amigos que vão correr a maratona.



Crise, que crise? Todas as lojas estão contratando



O comércio é sofisticado e variado, as lojas são lindas














Chicago tem excelente reputação gastronômica. Este aqui é o Alinea, décimo na lista dos melhores restaurantes do mundo. Fizemos reserva com meses de antecedência e, se este post tivesse som, daria pra ouvir meu coração acelerado. A expectativa é grande - afinal, é minha primeira vez num restaurante gastromolecular.



O chef é Grant Achatz, que, aos 35 anos, já enfrentou um câncer de boca, perdeu o paladar, deu a volta por cima e foi eleito melhor chef dos EUA em 2008. Quando se cruza a porta da discreta, minimalista fachada do Alinea, é como se a gente penetrasse numa nova dimensão.



Lá dentro, às 5 e meia da tarde, o restaurante, que só abre para jantar, começa a encher. Para ser um dos melhores do mundo não basta servir boa comida: o profissionalismo é visível nos mínimos detalhes. Como no guardanapo de linho com logotipo bordado...



Ao nosso lado, um casal de Nova Jersey comemorava uma data especial. Depois de perguntar de onde éramos e se era nossa primeira vez ali, o homem virou-se para nós e anunciou: "Preparem-se para um banquete!"



Pra acompanhar a refeição, suco de cranberry



No primeiro prato, espuma e caviar: delícia. Optamos pelo menu de 14 pratos (o outro tem 24 pratos!)




Cada prato é explicado em detalhes: os ingredientes, como se deve comer... aqui, um shot de capim-limão, uma saladinha, coulis de pimentão vermelho



Esta espécie de refrigerante é feita lá mesmo. Leva anis e acho que alcaçuz. Eles dizem que é pra preparar a boca entre um prato e outro. Se prepara eu não sei, mas percebi que minha boca ficava seca, como se a bebida tivesse o poder de "enxugá-la". Agora, dá uma olhada no copo, que lindo!



O rolinho é de truta, as barquetes são de ovas... duas coisas são especialmente divertidas no Alinea: a primeira é a expectativa, pois tudo é surpreendente e intrigante. A segunda é observar as reações dos outros: o sujeito de Nova Jersey suspirava, gemia de prazer, fechava e revirava os olhos, fazia caras e bocas...




Além de uma superequipe no salão e outra na cozinha, o restaurante também movimenta vários outros profissionais, pois grande parte da louça e dos utensílios precisa ser feita sob encomenda para causar o efeito desejado.



Esta maçã envolta em finíssima massa crocante e tostada era sensacional



O garçom coloca hashis (palitinhos para sushis), a curiosidade aumenta: o que será que vem por aí?




Chega um trio de minimedalhões de cordeiro sobre um ferro em brasa, cada um com uma cobertura diferente (abóbora, berinjela e alecrim)... o segundo melhor prato da noite




Pato com laranjinhas kinkan e castanhas

Depois veio o melhor da noite, que foi consumido tão rápido, de uma vez só (seguindo instruções), que nem deu pra fotografar... foi a explosão de trufas, um ravióli com recheio líquido de trufas negras




Quando o garçom entrou com essa bandeja cheia de plantas, Alexandre, que até então vinha se comportando exemplarmente, fazendo concessões e comendo uma porção de coisas que não costuma comer, declarou, convicto: "Agora chega, isso aí eu não como não!"

Não demorou para que o maitre, como se tivesse entendido, respondesse: "Não se preocupem, não é pra comer não, isso aqui é para sentir o aroma e intensificar a experiência do próximo prato..."




o prato era à base de tomate, com muitas variações: tomatinho, tomatão, tomate verde... acompanhado de figo e azeitonas pretas




Manteiga de amendoim e especiarias




Este prato incluía bacon, maçã, butterscotch e tomilho




Os pratos são confeccionados especialmente para cada preparação. Eles são cheios de concavidades em locais específicos, totalmente irregulares, para permitir as apresentações desejadas.




E vamos entrando nas sobremesas... esta é à base de chocolate, blueberry e maple




E, por último, uma brincadeira: você tem que sugar o conteúdo deste tubo - as camadas saem uma de cada vez -, o que faz um barulho engraçado. Tem gostinho de jujuba, de infância... é o lado emocional da cozinha tecno.


Na hora de sair, uma visita à cozinha







No domingo, fomos assistir à maratona...



A cidade tem grande vocação esportiva.

















Chicago é uma verdadeira aula de arquitetura













Situada às margens do lago Michigan, que separa os EUA do Canadá, a cidade é banhada pelo rio Chicago, de águas limpíssimas










Na rua, uma sátira ao famoso quadro Gótico Americano, cujo original você vai ver mais adiante















Nesta vitrine, malas com pinturas do brasileiro Romero Britto



A melhor maneira de conhecer Chicago é num passeio pelo rio...


... o visual é incrível, mas você quase congela. Faz muito frio em Chicago. Pegamos zero graus em outubro, mas a sensação térmica era de menos - talvez por causa do vento gelado que varre a cidade, conhecida como "Windy City"














Neste local próximo ao rio foi construído, em 1803, o Forte Dearborn, marco na fundação da cidade



Maquete da cidade









Para almoçar, escolhemos o tradicional Lou Mitchell´s, que marca o início da antiga Rota 66, estrada que ligava Chicago a Santa Monica, na Califórnia











Parece que todo mundo teve a mesma ideia, pois o restaurante tava lotado, inclusive de gente que tinha acabado de correr a maratona. Depois da corrida, eles se embrulhavam numa espécie de papel alumínio, acho que pra evitar um choque térmico.



hambúrguer com fritas


omelete


Depois do almoço, uma visita ao Art Institute of Chicago, onde vimos quadros de Gauguin...


de Monet...





... e de van Gogh.


"Tarde de domingo na ilha de Grande Jatte", de Seurat, de perto é todo formado por minúsculos pontinhos coloridos, característica da técnica de pintura conhecida como pontilhismo.


"Dia de chuva em Paris", de Gustave Caillebotte, atrai a atenção de todos os visitantes.



Também vimos o expressionismo abstrato de Jackson Pollock...


... e quadros engraçados como este.






Aqui, o visitante pode interagir com a obra e pegar balinhas nesta pilha.






Outra obra de arte conceitual - e curiosa: o artista afirma que, assim como a areia para gatos, a arte absorve a sujeira ao seu redor...



"Aves da noite", de Edward Hopper, retrata a solidão do homem urbano


"Gótico Americano" representa uma sociedade reprimida e repressora. Foi pintada em 1930 (após o impacto da crise econômica de 1929) por Grant Wood, que usou como modelos sua irmã e seu dentista.


E tinha ainda muitas esculturas orientais...








Do lado de fora, mais obras de arte: esta fonte é composta por duas colunas, uma de frente para a outra...

na parte interna de cada coluna, é projetado o rosto de uma pessoa


depois de alguns minutos, os dois rostos jorram água pela boca ao mesmo tempo



Arte e natureza integradas no espaço público





























Esta parede tem pedaços de monumentos do mundo inteiro








galeria de arte em Chicago





nem todos estão satisfeitos com Obama





Na segunda-feira, o almoço foi na House of Blues



O local, conhecido pelas atrações musicais, também serve excelente comida. Pena que não deu pra fotografar, porque estava escuro.


A decoração é fantástica, mas eles não deixam fotografar. No banheiro, no entanto, não tinha ninguém vendo...


tudo é pintado à mão.



Este personagem é o Elwood Blues, que você talvez conheça do filme "Os Irmãos Cara-de-Pau".


Chicago é uma cidade bastante musical.












Encontramos um Trader Joe´s pertinho do hotel. Este supermercado tem um conceito inteiramente novo e vende produtos orgânicos de marca própria a preços imbatíveis.


Você acerta o peso da abóbora e leva ela pra casa


Nosso hotel em Chicago








A Torre de Água é um dos poucos prédios que sobreviveram ao incêndio de 1871





no detalhe, pedrinhas de gelo











Crate & Barrel, loja que vende artigos de cozinha, de dia...


... e à noite.












Uma loja especializada em pipoca? Chicago tem.





De volta ao aeroporto de Chicago, que, apesar de ultramoderno...



... recebe calorosamente os que chegam.

9 comentários:

Eduardo disse...

Muito legal o post! Parabéns!
No final das contas, gostou do restaurante de comida molecular? E só por curiosidade, é caro? rs...
Beijo!

Nádia Lamas disse...

Eduardo, gostei de ter ido, matei minha curiosidade. Também achei legal ver a infraestrutura que existe por trás de tudo aquilo. Com o imposto, a gorjeta e o tal suco de cranberry, saiu 180 dólares por pessoa. Eu diria que valeu cada cent... não é só um jantar, é uma experiência única. Pode sair bem mais caro se você fizer a harmonização com os vinhos deles (que dizem que são do outro mundo) ou pedir o menu completo, de 24 pratos. Com o de 14 eu já achei um exagero de tanta comida... bjs

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Eduardo disse...

Legal! Essas coisas, temos que fazer ao menos uma vez! Mesmo que seja caro, temos que saber como é!
Beijo!

Anônimo disse...
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Claudia Lima disse...

Nadia tenho uma amiga que mora em Chicago. Ela vive me convidando para ir lá, mas ainda não deu.
Vendo as fotos tive uma imprenssão bem melhor do que imaginava. É uma cidade muito bonita.
Já vi uma entrevista com o chef que teve Cancer. Ele deu muita sorte. Queriam cortar a língua dele, imagine.
Amo aquele quadro do Edward Hopper. Eu não sabia que o original se encontra em Chicago.
Bjs :)

Nádia Lamas disse...

Eduardo, antes de ir eu li muitos comentários sobre o restaurante, de gente que já tinha ido lá, e um cara disse: "se for preciso, atrasa um mês do aluguel, mas não deixa de ir!" Achei muito sábio esse conselho... (risos) Esse cara sabe viver. bjs!

Claudia, você deve aceitar o convite da sua amiga, mas no verão, se não gosta de frio... de qualquer maneira, leva um casaquinho. Pra você que é formada em Artes, Chicago é imperdível.

Quando eu soube da história do chef, fiquei pensando: como não acreditar em ironias do destino? por que um chef jovem e talentoso vai ter câncer logo na língua? não sabia que queriam cortar a língua dele, que coisa horrível... tomara que se recupere pra sempre e tenha muitos anos de sucesso.

eu adoro o Hopper, e este quadro é o meu preferido também! bjs!

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel